sábado, 24 de agosto de 2019

Gurizada Medonha - "Carnaval no Ginasião de Cidra"

Mais um capítulo do mais bombástico livro dos últimos anos...!


"Quando não dava para “furar” nos bailes de carnaval do CPC, a outra opção era o “Ginasião”, na entrada de Cidreira. O local era mais afastado, mais povão, sendo frequentado pela “chinelagem” local, e os “marisqueiros”, os nativos da praia. O “ginasião” era imenso, e por mais gente que havia parecia sempre vazio. Era um local meio “deprê”. O Cascuda e eu fomos encarar um “carná” no “ginasião”. Já estávamos meio “mamados”, mas não o suficiente, e próximo do ginásio havia um posto de gasolina. Ao entrar no posto para tomarmos mais umas cervejinhas ouvíamos ao longe o som mecânico dos velhos sucessos carnavalescos. O bar do posto ficava bem ao fundo, num tipo de salão, e quando entramos não tinha ninguém, um silêncio total, um negócio meio sinistro, totalmente fora daquele clima carnavalesco lá de fora. Sentamos numa mesa quadrada com toalha vermelha, e nas paredes havia “xaxins” com belas samambaias, algumas tão grandes que chegavam os ramos a encostar na mesa. Eu continuei tomando a minha cervejinha, mas o Cascuda queria tomar alguma coisa mais “forte”, acho que era um “berg” ou um “cúnhacs”. Ele ficou rapidamente bêbado, e quando eu voltava do banheiro via ele resmungando algumas coisas sozinho. Aquela sala silenciosa, semi-escura e vazia, parecendo que ninguém pisava ali há séculos, começou a “pesar”, a bater a “mortidez”; falei que tava na hora da gente encarar o “ginasião” porque senão a “deprê” iria nos cosumir ali mesmo. Olhava pro Cascuda e ele parecia meio fora do ar, as vezes rindo sozinho e falando algumas coisas que eu não compreendia. Achei melhor tirar ele dali o mais rápido possível e seguir para o “ginasião”. Chegamos lá e era bem pior do que esperávamos: Meia dúzia de “gatos pingados”, mulherada feia, salão vazio, e o mesmo disco rodando as velhas marchinhas de carnaval. Só nos restava encher mais a cara, ver se dava para agarrar um “pexerecão”, e depois ir para casa “nanar”. Fui pegar uma cerveja (o bom era que a cerveja era bem mais barata que no CPC – pelo menos isso), e o Cascuda tinha sumido naquele imenso salão. Sentei num dos degraus das arquibancadas e fiquei bebericando, vendo as pessoas miudinhas pulando ao longe, no salão. De repente apareceu o Cascuda olhando pros lados, perguntando “cadê o cabeludo?” “Que cabeludo, meu?” “Aquele que tava com a gente no bar do posto”. Eu disse que estávamos somente nós dois no bar do posto, não tinha mais ninguém. Ele disse: “Tá louco! O cabeludo! O cara que parecia o Robert Plant ! Tava sentado na mesa com a gente!” Eu disse que não sabia o que ele tava falando, que ele tava delirando, mas ele continuou batendo na mesma tecla e de repente começou a chorar... “O meu amigo cabeludo.. Um cara legal.. Snif! Snif!”... Depois de muito conversar com ele e matutar a situação, cheguei a uma conclusão espantosa e hilária: O “cabeludo”, parecido com o Robert Plant (ele repetia que o cara tinha o cabelo igual ao “lédi”), era nada mais nada menos do que a samambaia (!) que estava pendurada na parede, no bar do posto. Quando eu via ele falando sozinho não era sozinho, e sim com a samambaia..! E ele chorava e dizia: “O magrão alto, com os cabelos do “lédi”. Que “cachaça mardita”..."

Um comentário: