"Quando não dava para “furar” nos bailes de carnaval do CPC, a
outra opção era o “Ginasião”, na entrada de Cidreira. O local
era mais afastado, mais povão, sendo frequentado pela “chinelagem”
local, e os “marisqueiros”, os nativos da praia. O
“ginasião” era imenso, e por mais gente que havia parecia sempre
vazio. Era um local meio “deprê”. O Cascuda e eu fomos encarar
um “carná” no “ginasião”. Já estávamos meio “mamados”,
mas não o suficiente, e próximo do ginásio havia um posto de
gasolina. Ao entrar no posto para tomarmos mais umas cervejinhas
ouvíamos ao longe o som mecânico dos velhos sucessos carnavalescos.
O bar do posto ficava bem ao fundo, num tipo de salão, e quando
entramos não tinha ninguém, um silêncio total, um negócio meio
sinistro, totalmente fora daquele clima carnavalesco lá de fora.
Sentamos numa mesa quadrada com toalha vermelha, e nas paredes havia
“xaxins” com belas samambaias, algumas tão grandes que chegavam
os ramos a encostar na mesa. Eu continuei tomando a minha cervejinha,
mas o Cascuda queria tomar alguma coisa mais “forte”, acho que
era um “berg” ou um “cúnhacs”. Ele ficou
rapidamente bêbado, e quando eu voltava do banheiro via ele
resmungando algumas coisas sozinho. Aquela sala silenciosa,
semi-escura e vazia, parecendo que ninguém pisava ali há séculos,
começou a “pesar”, a bater a “mortidez”; falei que
tava na hora da gente encarar o “ginasião” porque senão a
“deprê” iria nos cosumir ali mesmo. Olhava pro Cascuda e ele
parecia meio fora do ar, as vezes rindo sozinho e falando algumas
coisas que eu não compreendia. Achei melhor tirar ele dali o mais
rápido possível e seguir para o “ginasião”. Chegamos lá e era
bem pior do que esperávamos: Meia dúzia de “gatos pingados”,
mulherada feia, salão vazio, e o mesmo disco rodando as velhas
marchinhas de carnaval. Só nos restava encher mais a cara, ver se
dava para agarrar um “pexerecão”, e depois ir para casa
“nanar”. Fui pegar uma cerveja (o bom era que a cerveja era bem
mais barata que no CPC – pelo menos isso), e o Cascuda tinha sumido
naquele imenso salão. Sentei num dos degraus das arquibancadas e
fiquei bebericando, vendo as pessoas miudinhas pulando ao longe, no
salão. De repente apareceu o Cascuda olhando pros lados, perguntando
“cadê o cabeludo?” “Que cabeludo, meu?” “Aquele que tava
com a gente no bar do posto”. Eu disse que estávamos somente nós
dois no bar do posto, não tinha mais ninguém. Ele disse: “Tá
louco! O cabeludo! O cara que parecia o Robert Plant ! Tava sentado
na mesa com a gente!” Eu disse que não sabia o que ele tava
falando, que ele tava delirando, mas ele continuou batendo na mesma
tecla e de repente começou a chorar... “O meu amigo cabeludo.. Um
cara legal.. Snif! Snif!”... Depois de muito conversar com ele e
matutar a situação, cheguei a uma conclusão espantosa e hilária:
O “cabeludo”, parecido com o Robert Plant (ele repetia que o cara
tinha o cabelo igual ao “lédi”), era nada mais nada menos do que
a samambaia (!) que estava pendurada na parede, no bar do posto.
Quando eu via ele falando sozinho não era sozinho, e sim com a
samambaia..! E ele chorava e dizia: “O magrão alto, com os cabelos
do “lédi”. Que “cachaça mardita”..."
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Guilherme Ninov. Kkkk
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