"Não me lembro bem se foi em 1985, ou em 87, em que eu fui o mais longe com
a minha “bicheira” CG-125: Morro dos Conventos, em Santa
Catarina. Fui de motinho com a minha ex-namorada na garupa, mais
mochila e bagagem. De carro dirigindo (acho que era uma brasília)
foi o “Bichão da Brahma” (com a esposa e filho pequeno), O
Cascuda e o Careca. Nosso destino era um camping em Morro dos
Conventos, chamado “Lagoa Azul”. A distâcia dava mais do que 300
km e quando cheguei em Osório (cerca de 90 km de POA) já não
aguentava mais a bunda em cima daquela moto. A CG-125 era nova ainda,
mas não passava de 80 ou 90 Km/h (chegava a essa velocidade vibrava
tanto que parecia que iria se desmanchar toda), parecia uma
eternidade a viagem, assombrada por caminhões enormes que passavam
zunindo raspando do nosso lado. Naquela época a rodovia não era
duplicada, o que a tornava extremamente perigosa. Mas, enfim
chegamos, são e salvos no camping “Lagoa Azul”. Era um camping
enorme, com centenas de ruazinhas que se entrelaçavam, e cada via
tinha um nome de um país: Argentina, Uruguai, Equador... Conseguimos
encontrar um bom local para acampar numa ruazinha chamada “França”.
Eu estava podre daquela viagem desgastante de moto, louco pra tomar
uma ceva, o dia estava lindo e o local altamente agradável. Mas
primeiro tinha que montar a barraca (era uma estilo palacete) e toda
aquela mão-de-obra que somente quem curte camping gosta de fazer. Eu
não sabia nem montar uma barraca de dois, imagina uma barraca
palacete com dois quartos, varanda e o escambau, completa. Num dos
quartos ficaria o “bichão da brahma” a esposa e o filho; no
outro quarto eu e a namorada. O Cascuda e o Careca ficariam numa
barraca de dois. A primeira coisa que eu queria fazer era escapar
daquela função de armar barraca e achar um botequinho para tomar
uma gelada. O “bichão da brahma” (era assim apelidado porque
demolia vários engradados de ceva brincando) era o mais velho dessa
“tchurma” e dava as ordens de comando. Quando viu que eu não
sabia nem fincar direito um pau para a barraca, pediu que eu pegasse
o isopor e fosse comprar gelo no mercado. Era para gelar os nossos
engradados de ceva, ou seja, uma nobre missão. Mandou o Careca me
acompanhar também, porque era outro imprestável que não sabia
fazer nada de útil num camping. Saímos então a procura de gelo
naquele verdadeiro labirinto de ruazinhas de areia, sem a mínima
noção aonde poderíamos encontrar. Caminhamos, caminhamos, num
calorão do meio-dia, e nem sinal de mercado ou algo que fosse. O
Careca tinha vergonha de perguntar para os campistas aonde era o
mercado para não parecer um caipira ou desentendido. Ficamos mais de
uma hora dando voltas e voltas sem rumo, então encontramos um
verdadeiro oásis no deserto: um belo botequinho com graciosas
mesinhas, de frente para uma paradisíaca lagoa. Do lado do barzinho
havia o mercado, compramos o gelo e resolvemos dar uma paradinha
naquele oásis para tomar uma geladinha, afinal ninguém é de ferro.
Tomamos uma e caiu muito bem! Pedimos outra, ceva bem geladinha,
“faixa azul” da Antártica (a melhor cerveja da época), uma
brisa refrescante, a lagoa convidativa, e cheio de “pexeras”
desfilando. O que queríamos mais? Claro, mais uma ceva gelada! Acho
que estávamos na oitava ceva e de repente aquela paz celestial foi
rompida por um grito familiar, da minha ex, que havia nos encontrado,
e estava furiosa pela nossa demora. Fiquei pensando em como ela nos
achou nesse labirinto? Andamos por mais de horas, dando voltas e
voltas, estávamos seguros de que ninguém nos acharia. Foi como
despertar de um belo sonho para a dureza da vida real; a minha ex era
tagarela e começou a “tátátá!!! títítí!!!”, a encher o
saquinho, reclamando que estavam há horas esperando pelo gelo. Ela
estava certa, tínhamos ficado umas duas, três horas, entre vagando
e se gelando. Peguei o isopor cheio de gelo e fui, meio cambaleando,
já meio bêbado, de volta ao acampamento. Pensei: “Putz, vou ter
que caminhar tudo de volta, ainda mais com esse isopor pesado, cheio
de gelo...”. Qual não foi a minha grande surpresa em ver que, de
tanto eu e o Careca darmos voltas, o boteco da lagoa era praticamente
do lado da nossa barraca...! Nós saímos pela direita e demos a
volta por todo o camping; se saíssemos pela esquerda o boteco e o
mercado era menos de uns 20 metros. Chegamos no camping o “bichão
da brahma” tava irado, ele tinha certeza que “o Pankeka e o
Careca estão se empapuçando”, por isso ele mandou que a
“véia” (era esse o apelido da minha ex) fosse nos caçar. Ele
havia acabado de montar aquela suntuosa barraca palacete,
praticamente sozinho, e estava sedento por uma “brahma” bem
gelada (tinha todo o direito), e só estava faltando o gelo, que eu
havia trazido. Só imagino o tamanho de sua indignação ao abrir a
caixa de isopor e descobrir que o gelo (provavelmente pela demora),
quase todo, havia se convertido em água...! Tive que voltar urgente
(antes que apanhasse) ao mercado, agora com saída pela esquerda, e
com a escolta da “véia”, buscar mais barras de gelo..."
terça-feira, 24 de setembro de 2019
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Haahahahahah...sensacional!!!!
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