terça-feira, 24 de setembro de 2019

Gurizada Medonha - "Morro dos Conventos"

"Não me lembro bem se foi em 1985, ou em 87, em que eu fui o mais longe com a minha “bicheira” CG-125: Morro dos Conventos, em Santa Catarina. Fui de motinho com a minha ex-namorada na garupa, mais mochila e bagagem. De carro dirigindo (acho que era uma brasília) foi o “Bichão da Brahma” (com a esposa e filho pequeno), O Cascuda e o Careca. Nosso destino era um camping em Morro dos Conventos, chamado “Lagoa Azul”. A distâcia dava mais do que 300 km e quando cheguei em Osório (cerca de 90 km de POA) já não aguentava mais a bunda em cima daquela moto. A CG-125 era nova ainda, mas não passava de 80 ou 90 Km/h (chegava a essa velocidade vibrava tanto que parecia que iria se desmanchar toda), parecia uma eternidade a viagem, assombrada por caminhões enormes que passavam zunindo raspando do nosso lado. Naquela época a rodovia não era duplicada, o que a tornava extremamente perigosa. Mas, enfim chegamos, são e salvos no camping “Lagoa Azul”. Era um camping enorme, com centenas de ruazinhas que se entrelaçavam, e cada via tinha um nome de um país: Argentina, Uruguai, Equador... Conseguimos encontrar um bom local para acampar numa ruazinha chamada “França”. Eu estava podre daquela viagem desgastante de moto, louco pra tomar uma ceva, o dia estava lindo e o local altamente agradável. Mas primeiro tinha que montar a barraca (era uma estilo palacete) e toda aquela mão-de-obra que somente quem curte camping gosta de fazer. Eu não sabia nem montar uma barraca de dois, imagina uma barraca palacete com dois quartos, varanda e o escambau, completa. Num dos quartos ficaria o “bichão da brahma” a esposa e o filho; no outro quarto eu e a namorada. O Cascuda e o Careca ficariam numa barraca de dois. A primeira coisa que eu queria fazer era escapar daquela função de armar barraca e achar um botequinho para tomar uma gelada. O “bichão da brahma” (era assim apelidado porque demolia vários engradados de ceva brincando) era o mais velho dessa “tchurma” e dava as ordens de comando. Quando viu que eu não sabia nem fincar direito um pau para a barraca, pediu que eu pegasse o isopor e fosse comprar gelo no mercado. Era para gelar os nossos engradados de ceva, ou seja, uma nobre missão. Mandou o Careca me acompanhar também, porque era outro imprestável que não sabia fazer nada de útil num camping. Saímos então a procura de gelo naquele verdadeiro labirinto de ruazinhas de areia, sem a mínima noção aonde poderíamos encontrar. Caminhamos, caminhamos, num calorão do meio-dia, e nem sinal de mercado ou algo que fosse. O Careca tinha vergonha de perguntar para os campistas aonde era o mercado para não parecer um caipira ou desentendido. Ficamos mais de uma hora dando voltas e voltas sem rumo, então encontramos um verdadeiro oásis no deserto: um belo botequinho com graciosas mesinhas, de frente para uma paradisíaca lagoa. Do lado do barzinho havia o mercado, compramos o gelo e resolvemos dar uma paradinha naquele oásis para tomar uma geladinha, afinal ninguém é de ferro. Tomamos uma e caiu muito bem! Pedimos outra, ceva bem geladinha, “faixa azul” da Antártica (a melhor cerveja da época), uma brisa refrescante, a lagoa convidativa, e cheio de “pexeras” desfilando. O que queríamos mais? Claro, mais uma ceva gelada! Acho que estávamos na oitava ceva e de repente aquela paz celestial foi rompida por um grito familiar, da minha ex, que havia nos encontrado, e estava furiosa pela nossa demora. Fiquei pensando em como ela nos achou nesse labirinto? Andamos por mais de horas, dando voltas e voltas, estávamos seguros de que ninguém nos acharia. Foi como despertar de um belo sonho para a dureza da vida real; a minha ex era tagarela e começou a “tátátá!!! títítí!!!”, a encher o saquinho, reclamando que estavam há horas esperando pelo gelo. Ela estava certa, tínhamos ficado umas duas, três horas, entre vagando e se gelando. Peguei o isopor cheio de gelo e fui, meio cambaleando, já meio bêbado, de volta ao acampamento. Pensei: “Putz, vou ter que caminhar tudo de volta, ainda mais com esse isopor pesado, cheio de gelo...”. Qual não foi a minha grande surpresa em ver que, de tanto eu e o Careca darmos voltas, o boteco da lagoa era praticamente do lado da nossa barraca...! Nós saímos pela direita e demos a volta por todo o camping; se saíssemos pela esquerda o boteco e o mercado era menos de uns 20 metros. Chegamos no camping o “bichão da brahma” tava irado, ele tinha certeza que “o Pankeka e o Careca estão se empapuçando”, por isso ele mandou que a “véia” (era esse o apelido da minha ex) fosse nos caçar. Ele havia acabado de montar aquela suntuosa barraca palacete, praticamente sozinho, e estava sedento por uma “brahma” bem gelada (tinha todo o direito), e só estava faltando o gelo, que eu havia trazido. Só imagino o tamanho de sua indignação ao abrir a caixa de isopor e descobrir que o gelo (provavelmente pela demora), quase todo, havia se convertido em água...! Tive que voltar urgente (antes que apanhasse) ao mercado, agora com saída pela esquerda, e com a escolta da “véia”, buscar mais barras de gelo..."

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