"O Cascuda tinha uma moto RD-125, importada, cor de telha, dois
escapamentos e dois carburadores, apesar de um só funcionar. Eu
adorava o ronco daquela motinho, era parecido com o ronco da RD-350 e
lembrava até o super ronco da RD-750, só que era uma 125, bem menos
potente. A moto tinha cinco marchas mas só andava bem até a quarta,
e quando batia a quinta perdia a força por causa de um dos
“carburas” pifados. Em 1981, 82, 83 até 84 você podia andar de
moto na cidade sem capacete que não dava nada, além de poder
pilotar sem camisa, de chinelos de dedo e até com três na garupa
que tava liberado, a polícia não se encarnava, na época quem
fiscalizava o trânsito era Brigada Militar, não existia os
“azuizinhos” (fiscais de trânsito) e muito menos os kamikases
dos moto-boys. Era uma delícia pilotar sentindo o vento no rosto, o
cabelo voando, a sensação de liberdade era o máximo..! O Manuca
tinha uma DT-125, azul, trail, importada, uma bicheira de respeito,
mas que só funcionava com ele, se outro fosse pilotar ela pifava...
Uma vez saímos eu e o Manuca na bicheira dele depois de
termos tomado várias cevas em algum boteco. Não lembro onde
estávamos mas já era tarde da noite. Ele pilotava e eu, na garupa,
fazia as marchas... Que perigo! Nós meio emborrachados, sem
capacetes, dando risadas sem rumo em plena av. Bento Gonçalves, nas
proximidades da PUC, na madruga. De repente quebramos uma travessa e
subimos uma rua escura em direção a uma das vilas do Partenon. Rua
escura, pouca iluminação, e nós dando risadas e berros em cima da
motinho. Passamos por um grupo de pessoas e resolvemos dizer umas
gracinhas nada educada para eles, e depois pé na tábua porque eles
realmente não gostaram de ser provocados. Só que na hora de se
mandar a moto começou a engasgar, e eu, na garupa, não conseguia
engatar as marchas. O Manuca gritava: “Vâmo Pica-Pau!!! Engata
essa merda!!!” E a coisa não ia, e a turminha brava se aproximava
perigosamente... E para piorar mais a moto apagou! Eu pulei da garupa
para ver se o Manuca conseguia ligar a bicheira, e nada... Comecei a
ficar apavorado porque os caras estavam bem perto e com certeza
seríamos linchados. A moto parecia ter “afogado”, falei para o
Manuca que eu iria empurrar para ver se pegava. Já era desespero, e
eu sai empurrando a bicheira naquela escuridão, sem saber
direito onde estávamos, e os gritos cada vez mais forte de “pega”!
“pega!”, “mata!”..! Quando eles estavam a poucos metros de
nós a moto pegou e o Manuca saiu voando, me deixando para trás,
correndo atrás dele..! “Volta, Manuca!! Os caras vão me matar!!”
Ele já tinha andado uma meia quadra, fez a volta, e eu consegui
pular na garupa como se fosse um sapo, e sumimos dali a milhão,
escapando da ira sanguinária da turba..."
segunda-feira, 17 de junho de 2019
"Gurizada Medonha" - Uma Odisseia Pelos Anos 80"
Terminei meu segundo livro, estou na fase da digitação e das imagens. O título provisório é: "Gurizada Medonha - Uma Odisseia Pelos Anos 80". O livro é sobre memórias de fatos que raramente poderiam acontecer hoje, e nessas últimas décadas, aventuras de uma turma da pesada que aprontaram várias durante a década de 80. Aqui vai um trechinho:
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