"Sábado a tardinha, caindo a noite, e a “massa” dando uma banda
com as motinhos depois de um joguinho de futebol. No caminho demos
uma parada no clube Farrapos, que tinha um bar legal para tomar umas
cervejas. Não pudemos entrar porque o salão havia sido alugado,
para uma festa de debutante, e ficamos só no “bico” cuidando os
movimentos. Os vidros do clube eram espelhados, nós podíamos ver o
pessoal lá dentro, mas eles não viam nada de fora. Lá dentro
estavam todos em trajes de gala, a debutante toda de branco, num
vestido longo e rendado, alguns rapazes vestidos em trajes militares,
com sabre e tudo, isso porque o clube era de caráter militar.
Ficamos olhando pelas janelas aquele luxo todo, aquela fartura de
comida e bebida. Havia um segurança que era uma “parede” na
porta de entrada, e não passava uma mosca sem ter o convite.
Anoiteceu rapidamente, e na hora da valsa da debutante todo mundo se
voltou para olhar, inclusive o segurança “gorila”, que entrou um
pouco adentro do salão, para ver mais de perto o espetáculo,
deixando um pequeno espaço entre ele e a porta. Apagaram as luzes, e
só as velas iluminaram o salão, que se maravilhava com a
aniversariante dançando com um, depois com outro. Com o salão
escuro, o porteiro entrou mais um pouco para ver melhor a dança, e
isso foi o suficiente para nós entrarmos um por um, na manha, sem
sermos vistos. Aproveitamos a penumbra do ambiente, junto com a
distração do segurança e convidados, achamos umas mesas vazias e
sentamos. Dividimos o nosso grupo em duas mesas, para não chamar a
atenção. Acho que estávamos em seis. Começamos imediatamente a
abrir os embrulhos de comida que estavam na mesa, enrolados
delicadamente em papel celofane, mandando ver nos docinhos e
salgadinhos. Enquanto a debutante dançava nós íamos nos
embuchando. Para abrir aqueles embrulhos o papel celofane fazia um
barulho “xarope”, e o pessoal das mesas mais próximas começaram
a nos olhar. Mas tudo bem, estava bem escuro, e todos os gatos eram
pardos no salão. Liquidamos a comida das mesas, e quando o garçon
passou pedimos para trazer chopp, ou cerveja gelada. O garçon nos
olhou com uma cara não muito simpática e desapareceu. O “filho da
mãe” não nos atendeu. Cada garçon que passava nós quase
implorávamos uma ceva gelada, e nada. Aqueles salgadinhos e docinhos
nos deixaram com mais sede ainda. Em dado momento a valsa terminou, e
acenderam todas as luzes. Aquilo ficou mais iluminado que um campo de
futebol, e a cena que se viu ali foi patética. Todo mundo ao redor
“chiquetésimos”, brilhantes e impecáveis, e apenas duas mesas
contrastavam com aquela nobreza imaculada. Aqueles seis miseráveis,
vestidos com surrados e desbotados abrigos “adidas”, tênis
velhos e sujos, camisetas suadas (afinal viemos de uma “pelada”
de futebol), o que de certa forma contrastava violentamente com os
“smokings” e trajes de gala. O Manuca chamava mais a atenção
porque estava com uma camiseta amarelinha, da seleção brasileira.
As nossas mesas estavam um “chiqueiro”, era farelo para tudo que
era lado, papel celofane amassado, e mais farelo nas nossas caras e
camisas. Aqueles olhares inquisidores estavam nos fuzilando, e
começamos a ficar tensos. Uma distinta senhora, de uma mesa próxima
a nossa, perguntou se éramos conhecidos da aniversariante. Antes que
eu pudesse pensar numa resposta qualquer, o Wolfman soltou um baita
de um peido, na cara dura, PRÓÓÓÒ..!!!, que deixou a madame de
boca aberta e olhos arregalados... Era o fim ,caiu a casa, não tinha
mais jeito, os segurança só não nos chutaram dali por causa do
escândalo, e aqueles fardadinhos com as espadas estavam loucos para
passar a lâmina no nosso lombo. Passou um garçon com um belo jarro
de chopp, e o Cascuda ainda pediu para deixar o jarro na mesa, mas
foi completamente ignorado. A tensão ficou ainda maior com a
aproximação da aniversariante, que vinha cumprimentando o pessoal
de mesa por mesa, e já estava bem próxima da nossa. Os seguranças
só estavam esperando esse momento para nos colocar para fora.
Tínhamos que fazer alguma coisa, então combinamos que cada um
levantasse lentamente e saísse discretamente, de cantinho, sem
chamar muito a atenção. Só que não combinamos quem seria o
primeiro a levantar, e levantamos todos de uma vez. Derrubamos
cadeiras e espalhamos farelo para tudo que é lado. Aquele foi o
clímax da situação, a debutante estava nos olhando sem saber o que
estava acontecendo, e os seguranças estavam vindo em nossa direção.
Apertamos o passo em direção à saída, e, para minha surpresa,
ainda ouvi o Wolfman falar para um cara, que estava comendo os
salgadinhos da mesa: “Não come isso daí, que tá estragado..!”
Kkkkkk!!! Que cara de pau! Saimos correndo, pegamos as nossas motos e
sumimos dali. Essa foi uma bela duma “galinhagem” inesquecível..!"
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😂😂😂😂😂😂😀😀😀😀😀😁😁😁👏👏👏
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