quinta-feira, 4 de julho de 2019

"Gurizada Medonha" (mais um capítulo)

Mais capítulo inédito, dessa verdadeira epopeia pelos anos 80...


"Sábado a tardinha, caindo a noite, e a “massa” dando uma banda com as motinhos depois de um joguinho de futebol. No caminho demos uma parada no clube Farrapos, que tinha um bar legal para tomar umas cervejas. Não pudemos entrar porque o salão havia sido alugado, para uma festa de debutante, e ficamos só no “bico” cuidando os movimentos. Os vidros do clube eram espelhados, nós podíamos ver o pessoal lá dentro, mas eles não viam nada de fora. Lá dentro estavam todos em trajes de gala, a debutante toda de branco, num vestido longo e rendado, alguns rapazes vestidos em trajes militares, com sabre e tudo, isso porque o clube era de caráter militar. Ficamos olhando pelas janelas aquele luxo todo, aquela fartura de comida e bebida. Havia um segurança que era uma “parede” na porta de entrada, e não passava uma mosca sem ter o convite. Anoiteceu rapidamente, e na hora da valsa da debutante todo mundo se voltou para olhar, inclusive o segurança “gorila”, que entrou um pouco adentro do salão, para ver mais de perto o espetáculo, deixando um pequeno espaço entre ele e a porta. Apagaram as luzes, e só as velas iluminaram o salão, que se maravilhava com a aniversariante dançando com um, depois com outro. Com o salão escuro, o porteiro entrou mais um pouco para ver melhor a dança, e isso foi o suficiente para nós entrarmos um por um, na manha, sem sermos vistos. Aproveitamos a penumbra do ambiente, junto com a distração do segurança e convidados, achamos umas mesas vazias e sentamos. Dividimos o nosso grupo em duas mesas, para não chamar a atenção. Acho que estávamos em seis. Começamos imediatamente a abrir os embrulhos de comida que estavam na mesa, enrolados delicadamente em papel celofane, mandando ver nos docinhos e salgadinhos. Enquanto a debutante dançava nós íamos nos embuchando. Para abrir aqueles embrulhos o papel celofane fazia um barulho “xarope”, e o pessoal das mesas mais próximas começaram a nos olhar. Mas tudo bem, estava bem escuro, e todos os gatos eram pardos no salão. Liquidamos a comida das mesas, e quando o garçon passou pedimos para trazer chopp, ou cerveja gelada. O garçon nos olhou com uma cara não muito simpática e desapareceu. O “filho da mãe” não nos atendeu. Cada garçon que passava nós quase implorávamos uma ceva gelada, e nada. Aqueles salgadinhos e docinhos nos deixaram com mais sede ainda. Em dado momento a valsa terminou, e acenderam todas as luzes. Aquilo ficou mais iluminado que um campo de futebol, e a cena que se viu ali foi patética. Todo mundo ao redor “chiquetésimos”, brilhantes e impecáveis, e apenas duas mesas contrastavam com aquela nobreza imaculada. Aqueles seis miseráveis, vestidos com surrados e desbotados abrigos “adidas”, tênis velhos e sujos, camisetas suadas (afinal viemos de uma “pelada” de futebol), o que de certa forma contrastava violentamente com os “smokings” e trajes de gala. O Manuca chamava mais a atenção porque estava com uma camiseta amarelinha, da seleção brasileira. As nossas mesas estavam um “chiqueiro”, era farelo para tudo que era lado, papel celofane amassado, e mais farelo nas nossas caras e camisas. Aqueles olhares inquisidores estavam nos fuzilando, e começamos a ficar tensos. Uma distinta senhora, de uma mesa próxima a nossa, perguntou se éramos conhecidos da aniversariante. Antes que eu pudesse pensar numa resposta qualquer, o Wolfman soltou um baita de um peido, na cara dura, PRÓÓÓÒ..!!!, que deixou a madame de boca aberta e olhos arregalados... Era o fim ,caiu a casa, não tinha mais jeito, os segurança só não nos chutaram dali por causa do escândalo, e aqueles fardadinhos com as espadas estavam loucos para passar a lâmina no nosso lombo. Passou um garçon com um belo jarro de chopp, e o Cascuda ainda pediu para deixar o jarro na mesa, mas foi completamente ignorado. A tensão ficou ainda maior com a aproximação da aniversariante, que vinha cumprimentando o pessoal de mesa por mesa, e já estava bem próxima da nossa. Os seguranças só estavam esperando esse momento para nos colocar para fora. Tínhamos que fazer alguma coisa, então combinamos que cada um levantasse lentamente e saísse discretamente, de cantinho, sem chamar muito a atenção. Só que não combinamos quem seria o primeiro a levantar, e levantamos todos de uma vez. Derrubamos cadeiras e espalhamos farelo para tudo que é lado. Aquele foi o clímax da situação, a debutante estava nos olhando sem saber o que estava acontecendo, e os seguranças estavam vindo em nossa direção. Apertamos o passo em direção à saída, e, para minha surpresa, ainda ouvi o Wolfman falar para um cara, que estava comendo os salgadinhos da mesa: “Não come isso daí, que tá estragado..!” Kkkkkk!!! Que cara de pau! Saimos correndo, pegamos as nossas motos e sumimos dali. Essa foi uma bela duma “galinhagem” inesquecível..!"


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